- “Repetições palindrômicas curtas interespaçadas regularmente e agrupadas”. Esse nome enorme, nos estudos de genética, pode ser resumido em uma sigla que todo mundo que gosta de ciência já viu: CRISPR.
CRISPR é o seguinte: quando uma bactéria é atacada por um vírus e sobrevive para contar a história, ela guarda pequenos trechos do código genético dele para identificá-lo no futuro. Precaução, como andar por aí com a foto de um serial killer no bolso para reconhecê-lo na rua.
Se a bactéria for ameaçada pelo mesmo vírus no futuro, ela usa esses pequenos trechos para identificá-lo – e, para se defender, libera uma proteína chamada “Cas”, que picota o DNA do invasor como uma tesoura.
Essa combinação (CRISPR para identificação e Cas para ataque) pode ser usada para cortar qualquer molécula de DNA, não só as de vírus que enchem o saco. Pesquisadores do MIT e de Harvard perceberam isso, e tiveram uma ideia: e se usássemos o método das bactérias para editar DNA humano – cortando fora mutações indesejáveis, que causariam doenças no futuro, e trocando os trechos problemáticos por substitutos saudáveis?
Bem, deu certo. Objeções éticas a parte, foi um das maiores avanços científicos da última década. Agora, é possível editar genes como quem edita textos no computador, na base do “ctrl + c, ctrl + v”. Tudo mais rápido, barato e preciso.
Depois desse sucesso todo, é claro, os testes clínicos começaram – a ciência e a medicina querem saber se é seguro usar o CRISPR na prática, para fazer pequenas cirurgias genéticas que evitariam, por exemplo, a obesidade. Potencial não falta. Ratos de laboratório, por exemplo, já foram “imunizados” geneticamente com sucesso, e nunca mais ficarão gordinhos além da conta.- Pena que nem tudo são flores.
Estudos anteriores já haviam previsto a possibilidade de que a técnica CRISPR/Cas acabasse atacando, sem querer, trechos de DNA que não tem nada a ver com a situação que está sendo resolvida. Por isso, a maior parte dos pesquisadores usa algoritmos de computador para varrer toda a extensão do material genético que está sendo submetido aos testes – e identificar trechos inocentes que vão acabar danificados ou “deletados” por acidente após a intervenção.
O problema é quando o algoritmo não é tão eficiente – uma questão que surge quando os testes saem do nível microscópico e são feitos com animais reais, muito mais complexos. Um grupo de pesquisadores das universidades de Stanford e Iowa tropeçou nessas modificações não-intencionais e não-previstas em um teste em andamento, e relatou o problema no periódico científico Nature Methods.